Um Blog de dois erres, para todos os errantes.

quarta-feira, 31 de março de 2010

And the winner is...



Por Rosa Estrada

Maktub!, bradou o alegre apresentador. Pois é, estava mesmo escrito, não poderia ser diferente. Numa edição do reality em que o objetivo era enfocar a diversidade sexual, vence o participante mais preconceituoso da casa, aquele que sempre deixava evidente o seu "orgulho hétero" e que ficava visivelmente incomodado com simples brincadeiras envolvendo o seu nome e o de um dos gays. Com o cinismo que lhe é peculiar, o público elegeu assim o mais novo milionário da praça, numa mensagem muito clara de que o homossexualismo no Brasil ainda é algo encarado com desprezo e extrema falta de respeito. Não chega a surpreender. Num país em que Tropa de Elite foi um filme de estrondoso sucesso, o povo não perdeu a oportunidade de aclamar a versão civil do Capitão Nascimento. Os brasileiros agora já têm um novo herói.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Eu botei São Jorge na Santa Ceia!












Por Rosa Estrada

Recentemente eu vi num jornal que, à medida que o tempo passa, os pintores fazem novas representações da Santa Ceia cada vez mais fartas, com mais comidas e bebidas. Eu fui lá e pintei uma garrafa de vinho São Jorge na mesa!

sábado, 6 de março de 2010

Como diria Gramsci...



Por Rosa Estrada

Frequentemente, ligo a TV e meu olhar treinado não deixa escapar o seu discurso, enquanto canal de propaganda da ideologia burguesa. No Brasil, a televisão exerce um papel formador de opinião em proporções tão amplas como talvez em nenhum outro lugar do mundo. Portanto, não é perda de tempo refletir sobre os estereótipos reproduzidos pelos programas de televisão no intuito de incutir em quem assiste valores que interessa a alguém que continuem sendo perpetuados e internalizados.
Vou começar minha breve análise pela novela do horário da dezenove horas, veiculada pela vênus platinada. Entre vários personagens, o que mais me chamou a atenção foi o de uma babá de pele clara que tem um filho adolescente, menor infrator. O curioso desse enredo é que o garoto é negro. O autor da novela achou por bem que o personagem fosse interpretado por um jovem ator de pele preta, num discurso silencioso mas prenhe de intenções. Ora, um rapaz negro não podia ser apenas um rapaz negro, como tantos que existem em nosso país? Não. A mensagem é: o negro possui a criminalidade inerente à sua cor, não importanto a maneira como vive nem como foi criado. O autor da novela parece ter feito questão de deixar isso tão claro que a mãe do garoto, uma mulher batalhadora, de bom caráter, é branca, enquanto seu filho infrator é negro. Fica a impressão de que o personagem só foi para o mundo do crime por ser ter a pele escura, como se fosse ele tivesse impulsos antiéticos intrínsecos ao seu fenótipo. Nina Rodrigues ficaria orgulhoso de ver suas ideias seguidas à risca ainda hoje, no século XXI. O que dizer então da novela do horário nobre? Não vou me estender muito sobre os absurdos desse folhetim, porque senão não haveria espaço para postar neste blog. Quero apenas mencionar uma personagem em especial, a garota negra, de boa família, que também não resiste aos seus impulsos e vai morar no morro, com o namorado bandido, também negro, of course. Essa personagem reforça os ideais de Nina, já apresentados na novela anterior, mas agora com mais destaque, para que fique suficientemente internalizado no telespectador. Isso para não mencionar a modelo rica e bem-sucedida, e negra, que se ajoelha no chão para ser esbofeteada pela fidalga branca. Aqui, a mensagem é: o negro tem que saber o seu lugar; negro metido que ousa circular na elite merece castigo! Como não existe mais o pelourinho (o instrumento de tortura, é claro), foram inventadas novas formas de punir o negro "que não sabe o seu lugar", para as quais a criatividade é inesgotável.